sábado, 27 de outubro de 2012

Comunicadores do sertão baiano reivindicam políticas locais de comunicação

Após a mobilização da sociedade civil para realizar a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009, comunicadores do interior da Bahia resolveram continuar mobilizados em torno da pauta nos anos posteriores à Confecom. Para isto, criaram o Fórum de Comunicação Sertão do São Francisco, uma articulação de entidades da sociedade civil que conta hoje com representação em oito dos 10 municípios baianos localizados na região – entre elas ONGs, pastorais sociais, movimento estudantil, associações de moradores e rádios comunitárias.

Neste ano de 2012, para marcar a semana de luta pela democratização da comunicação na região, o Fórum realizou, em parceria com a Universidade Estadual da Bahia (Uneb) campus Juazeiro, o seminário “Comunicação pra quê? Por uma nova pauta no sertão”. No evento, que reuniu estudantes, educadores, profissionais da imprensa local e militantes de movimentos sociais para discutir o papel da comunicação para o desenvolvimento do Semiárido, o Fórum decidiu continuar atuando para a formação dos comunicadores locais e sensibilização da sociedade para o tema, mas também resolveu incidir com mais intensidade junto aos governos locais e ao governo federal, por meio do núcleo diretivo do território, na proposição e reivindicação de políticas públicas locais de comunicação.



De acordo com Érica Daiane, representante do Coletivo Intervozes no Fórum, no início de 2013, a articulação, que elegeu uma nova secretaria-executiva na reunião do último dia 19 de outubro, fará uma reunião de planejamento onde irá listar as prioridades de atuação neste novo ano. "Vamos listar as nossas prioridades, redefinir em que frentes atuaremos. Devemos manter o foco na formação de comunicadores populares, na sensibilização da sociedade, mas como é um ano em que entrarão novos mandatários nas prefeituras e nas câmaras de vereadores, devemos também atuar mais nesta linhas de propor políticas locais de comunicação", afirma Érica.

"Outra linha na qual devemos intervir é dentro da estrutura de governo da política de desenvolvimento territorial do governo federal. Não só assessoria de comunicação, mas também no que se refere à transparência e políticas de comunicação para o território", completa a representante do Intervozes, que acrescenta ainda que, graças à intervenção do Fórum, foi criada uma câmara temática de comunicação na estrutura de gestão do núcleo diretivo do território, mas que pouco avança por falta de prioridade e de recursos destinados à área. “Mas vamos continuar acompanhando porque muitos projetos de comunicação para região, principalmente para os municípios menores, vêm via território, como os infocentros e a telefonia rural”, complementa.

A estudante de jornalismo da Uneb e representante da Rádio Comunitária Curaçá FM no Fórum, Delaídes Rodrigues, afirma que o Fórum é um espaço relevante e de grande ajuda para as rádios comunitárias da região. "São espaços de discussão, de construção coletiva, e também de formação  para os radiocomunicadores. Essas experiências fazem com que a nossa rádio continue com um caráter comunitário e com que a gente acredite que podemos fazer uma outra comunicação, que é essa comunicação que a gente tanto deseja ver: democrática,  que chega a todos", comenta Rodrigues. A estudante também critica a pouca inserção da universidade na discussão acerca da democratização da comunicação. “Eu já venho de outra formação, das rádios comunitárias e de espaços como esse do Fórum, mas não vejo essa discussão sobre a democratização da comunicação na universidade”, conclui a comunicadora.

Comunicação pra quê? Por uma nova pauta no sertão

Desde que foi criado, há três anos, o Fórum de Comunicação Sertão do São Francisco realiza atividades regionais para marcar o Dia Nacional de Luta pela Democratização da Comunicação, 18 de outubro. Em 2010 foi realizado o Encontro Regional de Rádios Comunitárias; em 2011, o Fórum realizou atividades descentralizadas nos municípios, com a exibição de filmes e discussões em praça pública e nos bairros sobre o tema e, neste ano, o Fórum realizou o seminário “Comunicação pra quê? Por uma nova pauta no sertão”.

O seminário contou com a contribuição da pesquisadora Cicilia Peruzzo, referência nacional nos estudos sobre comunicação e transformação social, da integrante do Coletivo Intervozes Cecília Bizerra do comunicador popular Edisvânio Nascimento, que contribui com o processo de Comunicação para o Desenvolvimento na Região Sisaleira da Bahia, além de representante do Fórum de Comunicação Sertão do São Francisco.

Para a professora do curso de Comunicação Social da Uneb Gislene Moreira, uma das responsáveis pela organização do evento, "discutir estes temas é uma necessidade, principalmente se estamos falando de sertão, um lugar onde as estruturas de poder ainda são muito centralizadas, controladas. E não estou falando só das estruturas locais, as estruturas nacionais são ainda mais pesadas. Quem nasce na zona rural não só não se vê, mas não se sente, não se percebe como sendo cidadão brasileiro e a mídia reforça isso", afirma Moreira. 

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